Em “O guardião de memórias”, filme dramático estreado por Dermont Mulroney no papel de David Henry, o expectador atento encontrará motivos para pensar no que um ato, num momento crítico, numa decisão repentina, pode causar à vida e à família.
O doutor Mulroney é casado e sua esposa espera um bebê. Assim se inicia o filme, ambientado no ano de 1964.
David Henry, o pai, é um médico bem sucedido, mas não é pediatra nem ginecologista, e por isso leva sua mulher para que tenha a criança com o médico que a acompanha numa noite em que a neve cai copiosamente.
O médico que deveria fazer o parto, porém, não consegue chegar, e então David faz o parto auxiliado por uma enfermeira.
A surpresa acontece nesse momento, pois imediatamente após o nascimento de um bonito menino, a esposa de David de novo tem contrações e dá à luz menina, irmã gêmea do garoto.
A mãe logo após dar à luz cai em sono cansado, e o médico ao observar a menina vê que ela é uma criança com síndrome de Down, ou “mongoloide”, termo utilizado na época.
Sendo dominado por experiências de seu próprio passado e também influenciado pelos preconceitos de seu tempo, David toma a decisão de enviar a criança para longe e conta com a ajuda da enfermeira que o auxilio para tal.
A enfermeira tenta então levar a criança e chega a um local indicado para o médico, onde pessoas com deficiência vivem. Mas a enfermeira não tem coragem de ir até o fim, e acaba por ficar com a criança. O médico dirá à mulher que a filha nasceu mas faleceu.
Haverá toda uma carga dramática em torno disso, enquanto a consciência e o espírito de David são cada vez mais consumidos.
À medida que o tempo vai passando, a criança rejeitada por David cresce longe de seu irmão, e a família de David vai se quebrando aos poucos.
O filme mostra como nossos preconceitos e nossas mentiras, mesmo que usados na tentativa, intenção ou desculpe de proteger, podem destruir relacionamentos, a começar do relacionamento com o próprio coração e alma.
É interessante ver como um homem vai guardando para si somente o que não tinha direito de guardar, e como isso afeta não só sua vida mas também a vida das pessoas que ele diz amar.
Afinal, o filme traz tanto a realidade do resgate, em que a pessoa rejeitada mostra ser mais capaz de se adaptar e acolher do que todos, e onde duas mulheres e um rapaz, marcados por tudo o que aconteceu, conseguem ainda se olhar.
Filme para ver com a família, para refletir sobre o tratamento que se dá aos que são considerados menos capacitados, mas não deveriam; para considerar como nossas decisões podem ser catastróficas e em como a aceitação pode ser um ato de redenção.
O filme é baseado no livro de mesmo nome de Kim Edwards, autora americana (2005), e foi lançado em 2008 como um trabalho para televisão.